Selecionei dois trechos o 1º de Manuel de Barros e o 2º de Drummond leiam e percebam a sutileza desses dois "fraseadores"


Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que eu já decidira o que queria ser do meu futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terras. Qu eu queria ser fraseador. Meu pai ficou meio vago, depois de ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais velho perguntou: Mas esse tal de fraseador bota mantimento em casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu irmão insistiu: Mas fraseador bota mantimento em casa, nós temos que botar uma enxada na mão desse menino pra ele deixar de variar. A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai continuou meio vago. Mas não Botou enxada.
Manuel de Barros. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.

A incapacidade de ser verdadeiro

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou que e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu leva-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Na há nada a fazer, Dona Colo. Esse menino é mesmo um caso de poesia.Carlos Drummond de Andrade, Contos plausíveis. 3.ed. Rio de Janeiro: Record,1994. p. 19

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